Neste dia (23 de Junho) é comemorado o dia de S. João. Aqui fica uma lenda "monchiqueira" alusiva à data.
Lenda da louca e do dia de S. João:
Uma senhora de nome Josefa tinha uma quinta no concelho de Monchique, onde trabalhavam dois quinteiros cada qual vivendo numa casa: um com mulher e um filho e o outo com mulher e uma filha.
As crianças cresceram e tornaram-se jovens. Ela de seu nome Amélia era bonita, formosa e loura, e ele era o José os dois já com cerca de dezasseis anos.
Numa noite de São João, houve um baile e ela foi dançar com o rapaz. Foi amor à primeira vista.
- “Boa noite ó menina, vamos bailhar?”
- “Sim vamos.”
Dançaram a noite inteira os dois, e era vê-los a partir desse dia a falar sempre que possível, mais às escondidas, porque o pai do José não queria o namoro. Mas, passado um ano o pai do José veio a falecer, no dia de São João um ano após o dia do baile.
Como havia muito trabalho no campo e a mãe do José não conseguia dar conta das tarefas que eram muito pesadas, e o José ainda era novo, a dona Josefa, Dona da quinta, resolveu fazer uma proposta.
- “Como vocês ficaram sozinhos venham com a gente para a nossa casa na vila de Monchique e eu cá pago os estudos do moço pequeno para ele dar umas missas e ser um bom padreco. Queres melher?”
- “ti sabes que sim, eu cá fico má descansada e desanuviada com esse jeitinho que vossemecê faz-me a mim”.
A mãe do José ficou muito contente e tratou de arrumar os seus pertences para se mudar. Mas quem não gostou nada e não ficou nada feliz foi o José, que entristecido, foi logo contar à sua amada.
- “Minha Mélinha do coração vou-me morar p’outa casa e vou-me aprender pó seminário, é a vontade da minha mãe e da dona Josefa. Fica acalmada mia Melinha quê cá nunca te vou desquecer, e quando já tiver alguns estudos vou-te para te buscar pá gente se casar. Dés há-de perdoar a gente.
- “Sim mê Zé eu cá te espero.”
Amélia e José foram-se escrevendo às escondidas sem ninguém saber, com promessas de amor e felicidade. Mas o tempo foi passando e ele tinha que estudar até que começou a ficar cheio de dúvidas, se ia para o sacerdócio ou casava. Sofria, sofria em silêncio sem contar nada a ninguém e já escrevendo menos cartas à sua amada embora com grandes saudades.
Ela estava cada vez mais apaixonada e com muitas saudades por esperar por ele tanto tempo.
Um dia ele escreveu uma carta à Amélia em que lhe contava toda a verdade, ao mesmo tempo que lhe jurava amor eterno. No entanto passado alguns meses consagrou-se padre.
Assim que ela recebeu a carta começou a vaguear pelos campos como uma louca.
Passados alguns anos veio um padre para Monchique exercer o sacerdócio. Ele vivia sozinho e muito triste com o seu amigo e fiel cão. Nesse ano, no dia de São João vieram chamar o padre para ir fazer um velório.
- “Padre Zé tem mingua de fazer um velório a uma melher que morreu de desgosto d’amor.”
- “Sim vou-me. Ma diga lá morreu desgosto d’amor? Sará caso?”
Quando o sacerdote chegou ao local e viu que era a sua amada não queria acreditar no que estava a ver.
- “Padre Zé, veja lá cá melher tem algebêra uma carta que guarda na trouxa há muitos anos.”
- Atã dexe cá ver.
Ao ver a carta que tinha escrito ficou muito triste, tão triste que faleceu de repente junto da sepultura da sua amada com o seu fiel amigo cão.